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sábado, dezembro 05, 2009

Prosa Presa

Prenderam a Prosa, alegando que ela falava por demais, contando casos e acasos do menino e do beija-flor. Entre este e aquele verbo, destacava-se o amor; vítima da Prosa, com seu medo da dor. Mas a Prosa era menina direita, e era com apreço que contava o tempo, fazia vidas em aquarela e cantava o esquecimento. Jamais deixava para o segundo tempo o que o tempo agora lhe pedia, dançava no ritmo da saudade e lembrava dos tempos de mocidade: Suas primeiras aventuras, seu primeiro verbo narrado e até mesmo aquele que fora musicado. Lembrou de notas do samba e pediu mais uma vez aquela melodia; fora caça e caçador do mesmo objeto, cabendo sempre na mesma frase, vivendo a mesma realidade. Num golpe magistral a Poesia tomara seu tino, começara a versar seu riso. E lá elas se misturaram fazendo poesia cantada, fazendo verso recitado, até a Poesia tomar seu lugar e as pessoas deslumbrar. A Prosa queria mesmo só ser lembrada, fazer das suas letras, carta marcada. E enquanto buscava espaço entre uma estrofe e alguns milhos de pipoca estourada que percebeu como lhe fazia falta todo o seu dueto de domingo e segunda-feira. Então resolveu voltar, resolveu seu verso bailar. E nesse tango de nostalgia e reconquista se deparou com os mistérios de escrever contínuo enquanto as palavras pareciam querer pular para o próximo verso. Com esmero conseguiu na Poesia uma cantada passar, começando a lhe conquistar, sabendo que era apenas um artifício para tomar de volta seu lugar. As leis não lhe importava, o certo-e-errado perdeu-se nos ladrilhos daquela ruela. Até descobrir que aos olhos do Poeta, a Poesia transcendia e o amor era incondicional. Percebeu que não deixara de existir, apenas ficara presa na cegueira do Poeta...

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