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quarta-feira, dezembro 16, 2009

Discos mudos

E aquele retrato ainda está aceso aqui na minha lembrança, todos os sons, risos e mares que nos consumiam, que nos tomavam e nos faziam ser aqui e ali. Lembrando dos momentos em que você e eu nos descobrimos apenas um, um mar de saudade e um luar repleto de palavras que me faziam delirar. Recuperei o gosto da sua boca na minha, a me falar em sons mudos todos os seus sentimentos, enquanto que eu apenas conseguia fechar os olhos e me fazer sua, completamente entregue a seus sorrisos e nossos abraços. Agora fica a saudade, saudade dessas lembranças, saudade do seu cheiro que ainda está em mim. Olhando para meu travesseiro consigo me lembrar de você deitado, com os olhos semicerrados a me fitar, a me devorar. Fazendo-me ter certeza de que mesmo na vastidão do universo, nada está propenso a ser além, além dos nossos amores e nossas canções.

Os vultos da madrugada testemunham cada sussuro de uma conversa travada à meia luz, guardando todas as sensações de um dia de mar, um mar de querer, quereres em dualidade. Te procurei nas páginas do meu livro, enquanto meu telefone não me trazia de volta sua voz rouca após aquele whisky que tomara para afundar a melancolia da distância causada pela brisa que partira meu coração em fragmentos de ardor. Enquanto aguardava a escuridão tomar meu corpo e me adormecer, peguei meu livro manchado e te procurei nas páginas amassadas, retratos de aluguel. Olhei para os discos de bossa nova e não pude deixar de tocá-los, mas só meus ouvidos não os ouvia, ecoando sempre aquela imensidão de vazio, que apenas sua ausência é capaz de gerar.

Fechei os olhos mais uma vez e te idealizei ali, a me segurar entre mãos e pernas. Me perdi enquanto explorava seus devaneios, sentindo sua urgência, lhe sussurei a falta que me fez e vi seus lábios se moverem em resposta aos meus cabelos em seu rosto, mas não conseguia ouví-los, pareciam distantes, ecos mudos. Mas você ainda estava ali e eu conseguia lhe tocar, resolvi então viver naquele abraço e me fazer sua. Perdi o fôlego quando consegui enfim ouvir um som e então, abri os olhos e vi o sol.

8 comentários:

  1. É fácil perder o fôlego quando ainda se tem algum...

    Belas entorpecentes e atordoantes palavras. Sou dependente delas... Dependente de você!

    TE AMO!

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  2. Gostei daqui também.
    Seguindo...
    Beijas

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  3. Belo texto! As vezes de tanto amor, parece que a pessoa não existe, não é verdade? Certeza de que vou passar mais vezes por aqui!

    Bravo!

    Abraços!
    =D

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  4. Un blog precioso tienes te sigo y te enlazo para poder leerte con mas frecuencia..

    Un beso..


    Te dejo mis mejores vibraciones y deseos de paz y amor para estas fiestas navideñas y de año nuevo 2010...

    Un abrazo
    Saludos fraternos..

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  5. A saudade é inimiga da solidão. Por mais que você seja só, nunca está só...

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  6. Quase xará =P

    (eu sempre quis que meu nome tivesse H u.u)

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  7. Nathália, fiquei sem palavras!
    Você tem um talento absurdo para escrever...
    Fora o fato de que sempre me vejo dentro dessas suas palavras.

    Grande beijo

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Vivendo o Óbvio Utópico...