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domingo, novembro 29, 2009

Eco mudo

Ela lhe convidou para brincar de ardor, querendo fazê-lo transitar entre esta e aquela dimensão.
Ele se entregou. Querendo conduzí-la dentre o fogo que ali ardia, tocá-la por inteiro com seus dedos fumegantes de calor.
Ela conseguia lhe dominar, certa e determinada em cada ação, querendo dele entrega em toda alucinação.
Ele tinha ciência daqueles braços aparentemente frágeis a lhe entrelaçar e daquela suave boca a lhe marcar.
Chegava o momento de total embaraço, total era o desejo que eles se confudiam, sem saber explicar onde cada braço começava e onde cada perna teimava em terminar, desejando continuar a viver dois e desesperando-se para completar-se.
E num momento que não souberam explicar, mar e céu tornaram-se um. Um desejo, um eco mudo, um só querer, um grito de silêncio. Um sentimento.

quinta-feira, novembro 26, 2009

Salada de Emoções

Juntar tudo numa só mistura
Ser diferente vez ou outra
E ser nutritivo outra vez
Pegar toda e qualquer história
E fazer dela a história da vez
Unir substâncias distintas
Em busca de novas fantasias

Misturar o belo e o incrédulo
Ser utopia e pôr-do-sol
Um dia sob a face do poeta
E no outro de um girassol
Coexistir sempre na face do amante
Livre pra cantar e delirar

Fazer do eterno o logo ali
Batucar cada gota que cai do céu
Preparar um suco de emoções
Ser ontem e amanhã
Antes e daqui a pouco
Viver a imaginação
Sempre nessa Salada livre


~*

Visitem: http://saladalivre.blogspot.com/

quarta-feira, novembro 25, 2009

Living

A vida é narrada em notas e silêncio
Representada por sorriso e lágrima
Vivida em emoção e desalento

Uns a tomam por intensa
Outros a denominam passageira
De fato é corriqueira
Difícil será vê-la perder a aura intensa
Tampouco fechar as cortinas para a aurora

Se quiser correr para o mar,
Feche os olhos e deixe a brisa te abraçar
Caso queira se esconder num pôr-do-sol,
Apenas estenda a mão e siga o som

Já vi a vida ser tomada levianamente
Com apreço por diretrizes de um desacerto
Enquanto outros a viveram magistralmente
Transformando em silêncio qualquer discrepância

Levaram-na por meios obscuros
Sempre em busca do infinito
Sem notar que o início transforma-se em meio
E todo meio um dia haverá de virar fim

terça-feira, novembro 24, 2009

Soneto de carnaval

Não tem nome, não tem definição
Te vejo pelas paredes vivas da vida
E como água em dia de verão
Nos esbarramos em cada avenida

Feche os olhos e deixe o bloco passar
Toda essa algazarra, essa correria
Decerto retratam meu coração a prosear
Tomado de saudade em plena euforia

Queria mandar a bateria tocar
Cada nota pelo meu corpo escondida
Compondo o samba da despedida

Na quarta-feira com o sol a bailar
Levaram-me cada parte da bateria
Mas o chão eterniza cada serpentina

segunda-feira, novembro 23, 2009

Além e aquém

Percebe-se o brilho em seus olhos na transparência do ar
Vive-se a energia que seu corpo emana nos raios de sol
Dança-se o ritmo dos seus beijos nas noites de luar
Eterniza-se o calor do seu abraço num banho de chuva

Procuro verbos para o sentimento
Caço substantivos para as sensações
Perco-me em advérbios da saudade
Descubro-me num mar de palavras,
Mas nenhuma cabe na mesma frase que você

Podendo ir além, vou aquém
É aqui que você está
Não há no que apostar
Nem perdi, nem ganhei. Te conquistei.

sexta-feira, novembro 20, 2009

Pólos e notas...

E era apenas mais um dia de todos os mesmos clichês
Todos os mesmos destinos à mercê
E o infinito foi idealizado, o amor foi cantado e eles lá foram
A correr e passear sem ter porque frear.
Eram amores e ardores, corridas e abraços
E momentos em que era só você e eu.
Aqui, ali, vamos até um pouco além do universo
Não há lugar para parar
Vamos seguir em frente, vamos fazer diferente.
Ser sempre eu e você, em todas as estações
Em todos os pólos ou notas
Seremos mais uma vez luta e conquista
Força e compreensão
Sempre aptos a ser mais samba
Ser mais inverno, ser mais verão
Vem pra perto, chega maroto
Canta o som do meu coração
Enquanto te escuto e só sinto melodias
A invadir, a me tomar a me ter... Sem fim.

quinta-feira, novembro 19, 2009

Só enquanto eu...

E naquela manhã, ela acordou com o hálito quente dele na memória e ao esticar os braços para entrelaçá-lo, descobriu-se por abraçar o vazio. É, fora mais um sonho.

Quisera ela ter eloqüência suficiente para descrever o ímpeto que a fez pegar papel e lápis tão logo pôs os pés no chão, resolveu justificar pelo amor e saudade, na falta de palavras mais amplas. Mas ainda as achava tão pobres ao lado do tsunami de emoções que ele lhe proporcionava... Descobriu como era bom encostar no travesseiro e lembrar que apesar do frio lá fora, o coração estava aquecido. Chegava a criar uma antítese. Mas ela já havia se declarado fã delas mesmo, então se viu a continuar vivendo esse maremoto ora óbvio, ora utópico e a tomá-lo nos braços para viverem o óbvio utópico.

E num momento de romantismo exasperado, só conseguiu permitir que o coração usasse suas mãos para gritar o que estava sentindo... Dedicou-lhe seus versos mais modestos, fê-lo acreditar que só enquanto mantivesse a sanidade e respondesse por si; só enquanto pudesse chamar isso aqui de Terra e enquanto Friedrich Nietzsche pudesse ser chamado de filósofo; só enquanto o real ainda fosse utopia e a utopia não tivesse nada de fantasia; só enquanto respirasse, lembraria dele.


E assim tem sido.

quarta-feira, novembro 18, 2009

Despedida da estação

Abra as portas do seu corpo
Chegou a época de riso e ardor
Dispa-se das flores e vista-se de amores
Tantos quanto a temporada permitir
Vários amores de fim de tarde
Um amor de estação ou até um amor de verão
Que vem, brinca com toda sensação
Tira o fôlego num olhar
Incendeia num leve caminhar
Chega perto, traga a nostalgia daqueles dias de inverno
Brilha mais intenso que o despertar
Dança raios de sol
Corre mares de vendaval
Senta por perto e acalenta os descasos do horizonte
Prepara-se para a despedida da estação
Enquanto o céu chora por aquela pequena
Ela eterniza o oceano de desejos que nem mais um verão é capaz de suprir
Ele segura sua mão e diz que não pretende deixar as folhas sobreporem as lembranças
O mar silencia. A brisa os envolve.
Daqui a quatro estações eles ainda estarão envoltos por esse amor de verão.

terça-feira, novembro 17, 2009

Auto-Pessoa em 3° Retrato

E é bom, de vez em quando, mudar um pouco o que já é óbvio, talvez nem chegue a ser utópico, mas será assim, diferente:

愛  .   友情   .  バランス  .  尊重   .  愛 . 友情  .  バランス . 尊重 .  愛 . 友情  .  バランス  .  尊重


Carioca com os dois pés no Sul. Samba na cabeça, objetivos nos pés e papel e lápis na mão. Ariana com ascendente em escorpião. Fã de antíteses, também de (grandes) tatuagens, por enquanto tem uma no corpo, enquanto que nas idéias... Amante marota de literatura, todas que ousarem existir! Atemporal nos pensamentos; atemporal nas playlists. Estudante de Psicologia; psicóloga inata; concorda com Freud e concorda com Skinner; ama Psicanálise e ama Psicologia Transpessoal. Multivida de segunda a sexta, umas 30:47h/dia, de quebra aos sábados, domingos e feriados. Possui conceitos abstratos acerca do concreto. Fanática por futebol. Vocabulário estranho e "ultrapassado". 20 anos cronológicos; sabe lá Deus quantos mentais. Há quem tache de extrovertida, prefiro acreditar que seja equilibrada (não mentalmente falando). Poeta de chuveiro, porque cantora... Está longe! Adora travesseiros, mas nem tanto dormir. Fotógrafa amadora, amadora de cerejeiras. Irônica de norte a sul. Adora duetos de sal e doce, frio e quente, domingo e segunda. Procura nos livros o que não encontrou nem no universo. Salpica palavras em busca de melodia. Chocólatra nada anônima. Prefere qualquer líquido à refrigerante e não troca nenhum por chá. Escuta Los Hermanos até quando dorme, mas não deixa de lado outras jóias. Aventureira e preocupada apenas com a quantidade de adrenalidade da fórmula, se for pouca, nem pensar! Descobre uma nova característica a cada letra pensada, descobre uma nova paixão a cada verso recitado, afirma seu amor sempre que fecha os olhos e encontra os de seu protagonista. Acredita que todo humano tem um lado meio assim, poeta. E todo poeta ainda guarda um pouco de seu lado humano.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Poema de quiseras

Eu deveria escrever mais;
Mais desamores, mais temores, mais ardores.

Eu deveria viver o utópico;
E fazer do dia-a-dia um carnaval.

Eu deveria rir do som das nuvens;
E transformar pétalas de rosa em perfume.

Eu deveria ser poeta.

quinta-feira, novembro 12, 2009

Soneto de um dia chuvoso

Entre lençóis e seus caracóis,
Entre um beijo e um lampejo,
Sinto a beleza de cada um dos sóis
Que brilham durante mais um gotejo

Na desventura da saudade
Me perco em sons de outrora
Seus beijos e inverdades
Abraços correndo contra as horas

Mister fora os verbos cantados
Silenciosa e loucamente
Sagrou-se os versos recitados

Bailara o tango da mocidade
Cantara numa nota de descaso
Tomara os escalpos da liberdade

quinta-feira, novembro 05, 2009

Fabulação da emoção

O dia começou tão cinza naquela segunda-feira de sol à pino que meu coração corria contra o vento e contra qualquer maremoto que parecia que surgiria repentinamente abaixo de seus pés.

O tempo passa, cada micropartícula do nosso arranha-céu transforma-se. Você chegou, confortou-me, brincou de ser meu amigo para depois me fazer entender que não existe mais amor longe de você. Vejo-me perdida em recordações dos fins de tarde outrora idealizados, inebrio-me inteiramente com as lembranças de madrugadas e dias a tocar-te. Pinto novamente aquele quadro de saudade, remonto minha vaidade. Lembro dos seus olhos zelosos aos meus, sinto um leve arrepio a me tomar lentamente, faço a releitura das suas palavras, sinto seu gosto, o calor toma conta do arrepio, já não há mais espaço para fabulação, agora seu amor canta cada emoção. Direciono minha mão levemente inclinada para o peito esquerdo, só para confirmar a presença de meu coração, obstinado a bater desenfreado, fazendo-me acreditar que me deixara. Pego minha ocarina e sussurro entre sopros e suspiros os detalhes daquela nossa odisséia. Dedilho no vento as canções da minha saudade, fecho os olhos e numa ligeira ventarola lhe envio meu vendaval de amor. Desprendo-me das lembranças de um passado que agora me parece tão distante e me vejo tomada por seu groove, sentindo seu doce ardor a percorrer meu pequeno corpo, de norte a sul, tornando-me cônscia da maestria contígua com nossas almas, transcedendo o luar, até mesmo nosso luar singular.