Abraçava-a, beijava-a, tomava-a nos braços com a maestria de quem toma um violino, delicado e implacável. Sabia a hora de lhe falar manso e a hora de prosear crônicas da vida... Sabia que era ao mesmo tempo caça e caçador. Buscava dentro de si mais uma maneira de fazê-la gritar, de fazê-la sorrir. E obtinha sucesso. Quão breve era sua abordagem, era também o efeito que a mesma percorria nos pequenos e frágeis poros da pele pálida daquela pequena moça... Aparentemente delicada e inofensiva.
Ele entendia esses olhares como uma resposta de satisfação e prazer. Ele queria cantar-lhe as canções que outrora sussurrara para seus fones de ouvido, queria fazê-la enxergar que merecia as sete maravilhas do mundo. Queria deitá-la debaixo de uma cerejeira num final de tarde e após o crepúsculo, contar-lhe histórias de sua meninice. Queria aperta-lhe a mão e fazê-la sentir seu coração... Queria mostrá-la que há muito seus motivos de ali estarem havia mudado, que há muito tinha porquê voltar noite após noite.
Ela sabia que os motivos que o traziam eram sempre os mesmos, sempre à mesma hora. Nunca mudaria. Assim como nunca mudara até então. Sacudiu então a cabeça a fim de afastar as ilusões que os olhares dele a traziam. Fechou os olhos, para que não passasse mais luz por suas pupilas, deleitou-se ao lembrar de tantas esperanças anteriormente frustradas. Lembrou de suas ilusões e de suas alucinações, com prazer matou a luzinha que emergia no meio de sua escuridão.
Ele planejava como iria abordá-la esta noite, após adentrar aquela porta mais uma vez e, como em todas as outras, ir em sua direção... Perguntava-se se conseguiria, ao menos hoje, fazê-la acreditar que irá tirá-la daquele lugar.