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quarta-feira, abril 28, 2010

Nem ao certo, nem incerto...


Aqueles olhos eram de um verde tão vivo que faziam me perder num vendaval
Dancei entre as cores do arco-íris que se formava entre você e eu
E aquele beijo de girassol, tão singelo, tão sincero.
Me fazendo percorrer os mares, outrora já tão secos, agora imerso em sons.
Notas, casos, palavras e sorrisos, enfim. Fazendo o eu mais lírico da estação.
Transformando em artifício qualquer silêncio, música ausente.
E enquanto a distância se fazia imperatriz da emoção, eu sorria para o além.
E no aquém me apareciam papéis rasgados, com palavras rasuradas,
Me lembrando do quão distante alguns centímetros passara a ser
E do quão perto alguns quilômetros se transformaram, como olhares cruzados.
E o que de fato sempre fora o futuro, torna-se a variável. Sem ser constante.
E o que sempre fora uniforme, toma cor, som e movimento. Dentro de mim.
E passa a ser assim, nem ao certo, nem incerto.

sábado, abril 24, 2010

Untitled #3

Como a nota já rasgada no meio da sinfonia,
Como o verso desafino entre a voz impecável,
Como um amor já partido entre dois caminhos.


quinta-feira, abril 22, 2010

Versos Inversos

Aqueles olhos semicerrados após algumas doses de Whisky
E as madeixas caindo pelo rosto, tão belo... Encantador
As conversas à meia-noite, atravessando os limites de distância
De tempo, de realidade... Criando caminhos em labirintos.

Sussurrando versos indecifráveis, mas estimulantes...
Desviando o olhar enquanto caminha cambaleante em minha direção
Fazendo-me prender a respiração sem que eu ao menos note
Transformando em pecado até o mais sutil sorriso
 
E o abraço, outrora apenas aconchegante, torna-se dependência
Tomado em dias amenos e bruscos... Torvando-me os sentidos.
Revirando meu calendário ao avesso, sem noite, sem dia.
Rasgando os meus versos, transformando-me numa nota inversa

E o que era determinado, encontra uma bifurcação
As palavras já trocadas, viram gotas que escorrem por meu corpo
E as palavras que tanto foram ensaiadas, perdem o sentido
Soam como piadas de humorista em decadência...

E aquele rosto tão delicado faz-se protagonista da memória
Enquanto me beija e me faz sentir o êxtase iminente,
Me reinventa em minha própria invenção, meu doce paradoxo
O que antes era contramão, passara a ser bilateral.

segunda-feira, abril 19, 2010

Vício

É como um vício, suavemente saboroso e perigoso
Mais intenso que o aroma de um café ainda no bule.
Intrigante como a lua imersa em meia manhã
Altamente radioativo como a Rosa do Vinícius¹

Enquanto se aproxima com os cabelos ao vento,
Vira e quebra olhares,
No momento em que se instala em outro corpo,
provoca arrepios descompassados
E quando vira as coisas e se despede,
Causa desconforto. Imensuravelmente perigoso.

E tão veloz quanto o vento que causa um maremoto,
É a saudade que deixa ao partir, deixar de vir.
Causando continência, como o vício perigoso.
Despertanto a dependência, como o vício saboroso.



¹ - Vinícius de Moraes - Rosa de Hiroxima

domingo, abril 18, 2010

Atravessar...


Através do frio que chega pela madrugada, atravessando os cobertores, colchões e corações.
Através do sentimento que se torna frio, calculista... Imediatista, atravessando sorrisos.
Através de qualquer palavra que poderia ser versada em poesia, atravessando a sinfonia.
Através de todo e qualquer aconchego pode-se atravessar um desapego. É, pode sim.

Mas ó, através de qualquer desesperança pode vir atravessado um sonho...
Propenso a qualquer tangente que intercepte lábios que esperam ser devorados,
Desejando um infindável desejo. De mais, de quais, aliás... Desejando ser desejados.
E no final é mais uma noite inquieta, povoada por rostos indecifráveis.
Por vozes sussurrantes e sorrisos fechados, corpos distantes...

E é mais uma manhã de incerteza.

terça-feira, abril 13, 2010

Microconto #5

Um beijo era o que ela esperava.
Um beijo tão somente ele ansiava.
Numa sincronia quase perfeita eles se esbarraram.
O que era para ser um beijo de boa-noite,
Virou o mais falado beijo de cinema.



#diadobeijo

sexta-feira, abril 09, 2010

Dos sonhos...

E um dia ele escreveu sua história, pequenos passos de sua vida que diziam muito.
Falavam do caminho que seus pés percorria, falava das saudades que sentia.
E em momentos já distintos suas palavras se encontraram, foram diretamente recitadas.
Num passo magistral ela ganhou talhada em melodia versos que nos seus ouvidos se tornaram sinfonia.
Aqueles refrões não deixavam seu pensamento, mas lhe trazia sonhos aconchegantes...

Em sua memória existiam imagens do rapaz com aquele sorriso e olhar envergonhados...
E ela ouvia, em meio a sorrisos bobos, os contos daquele menino de charme inocente,
Ele falava dos sonhos de menino e daquela que sempre esperou... E ela sorria num sorriso bobo.
Ele corria contra o tempo para lhe dar boa noite e contar dos sonhos daquela madrugada.
E ela esperava com afinco suas palavras, que vinham como pequenos presentes, encantadores.

Sublime como a brisa que chega em fim de tarde, eram os suspiros sussurados em seu ouvido.
O desejo daquele abraço que tardava lhe tomava o sentido de espaço, tempo e enfim,
Passara a querer com seu mais singelo ardor esquentar aquele coração aquecido em lareira
Um beijo inusitado seria o suficiente para deixar de ser apenas a menina dos sonhos.